CONTROLO DA MIOPIA

CONTROLO DE MIOPIA

A prevalência da miopia está a aumentar e estima-se que em 2050 metade da população seja míope, sendo que 10% dessa população poderá ter uma miopia >5,00 D e por este motivo é considerado um problema de saúde pública, especialmente devido às possíveis complicações associadas à miopia patológica.



Globalmente a prevalência da miopia em crianças varia entre 3% (Etiópia) e os 90% (Hong Kong), e afeta maioritariamente a população do Sudeste Asiático (China, Coreia Sul, Japão e Singapura) mas também já com alguma representatividade no continente Europeu. Por exemplo no Reino Unido a prevalência da miopia entre população adulta ativa, já ultrapassa os 50%.


A reunião “Global Scientific Meeting on Myopia” em 2015 e com atualização em 2018, com a participação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Instituto Visual Brien Holden (BHVI), tinha como objetivo estabelecer consensos quanto á definição de miopia, possíveis consequências patológicas da miopia elevada e planos de intervenção comportamentais/ambientais, ópticos e farmacológicos.


  Intervenções comportamentais/ambientais: Existem fundamentalmente 2 planos de intervenção, o primeiro visando o aumento de tempo exterior (pelo menos 2h diárias) e o segundo diminuição das atividades de perto.


  Intervenções ópticas: possibilidade de recurso a :

a)lentes oftálmicas

b) lentes de contacto

            c) ortoqueratologia .


 a. Inicialmente pensava-se que uma hipocorreção miópica em lentes oftálmicas unifocais era uma técnica de controlo da miopia pela desfocagem provocada, no entanto cada vez mais esta ideia vai sendo abandonada, apresentando até alguns resultados contrários a um controlo do erro refrativo ou pelo menos pouca eficácia.


A prescrição de lentes oftálmicas bifocais, multifocais e bifocais prismáticas é outra das técnicas disponível, baseando-se no princípio da diminuição do lag acomodativo excessivo existente nas atividades de perto em míopes. Embora a literatura demonstre uma redução da progressão ainda não apresenta um controlo clinicamente significativo (<0,2D por anos). Têm surgido alguns estudos com lentes oftálmicas de desfocagem periférica, contudo os resultados até à data não foram promissores, com excepção de um subgrupo de míopes jovens e com um progenitor com miopia.

 

 b. As lentes de contacto RPG não apresentam evidência científica sobre o controlo do aumento do eixo axial.


Lentes de contacto hidrófilas bifocais ou multifocais (centro longe) têm sido uma estratégia cada vez mais utilizada pelos profissionais da visão, apresentando um controlo do alongamento do eixo axial entre os 27% - 32% em crianças entre os 8 anos e 16 anos, e 25% - 50% no controlo do aumento do equivalente esférico.


Mais recentemente foram aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration) as primeiras lentes de contacto hidrófilas diárias para controlo de miopia, apresentando um duplo foco de desfocagem miópica, criando uma imagem antes da retina e prevenindo desta forma o seu crescimento axial. Estas zonas de tratamento garantem uma desfocagem miópica constante independente da graduação, diâmetro pupilar e/ou variação na centragem da lente.


c. A Ortoqueratologia (lentes RPG de porte noturno) têm evidenciado alguns resultados positivos sobre o controlo do aumento do eixo axial (32% - 63%) sobretudo nos primeiros 5 anos, mas mantêm-se inconclusivo o efeito de rebound (voltar a aparecer) após a sua descontinuação. Contudo o grande efeito adverso destas lentes mantêm-se a queratite infeciosa.

 


  Intervenções farmacológicas:

De salientar que nenhuma intervenção farmacológica está aprovada pela FDA, no entanto decorrem alguns estudos sobre o recurso a cicloplégicos (atropina) com concentrações variadas.


Em concentrações mais elevada (0,5% - 1%) o controlo é bastante eficaz diminuindo em cerca de 70% a progressão, mas apresentando efeitos secundários bastante severos. Com concentrações mais reduzidas (0,1% ou menos) o controlo situa-se entre os 30% e os 60%. Quanto mais elevada a concentração maior o efeito de rebound associado.

 

Fonte

Ang M, Flanagan JL, Wong CW, et al. Review: myopia control strategies recommendations from the 2018 WHO/IAPB/BHVI meeting on myopia. Br J Ophthalmol. 2020;104(11):1482-1487. doi:10.1136/bjophthalmol-2019-315575



Bullimore MA, Richdale K. Myopia Control 2020: where are we and where are we heading? Ophthalmic Physiol Opt. 2020;40(3):254-270. doi:10.1111/opo.12686

Share by: