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MiYOSMART

ago. 29, 2022

Artigo MiYOSMART®

A prevalência da miopia está a aumentar de forma preocupante em todo o mundo, constituindo um elevado risco para a saúde visual bem como um elevado custo económico para as economias.


Cada vez mais intervenções precoces são necessárias para combater e travar esta pandemia.


Várias estratégias para controlo de miopia estão a ser disponibilizadas tais como farmacológicas (atropina) e óticas (ortoqueratologia, lentes oftálmicas e lentes de contacto hidrófilas), apresentando cada uma delas resultados promissores (com diferentes níveis de eficácia) mas também algumas limitações.


Ao contrário de outras estratégias de controlo de miopia (ortoqueratologia e atropina) as lentes oftálmicas de desfoque miópico periférico são relativamente recentes. As lentes MiYOSMART® são as que apresentam uma base científica mais robusta (estudo aleatório e controlado a 2 anos com seguimento a 3 e a 6 anos) apresentando eficácia similar a outros métodos de controlo tais como, lentes de contacto hidrófilas multifocais ou atropina de baixa concentração (0,01% e 0,025%). Até à data apenas tivemos acesso ao “abstract” do estudo de seguimento a 6 anos que foi apresentado no ARVO em Denver e no EAOO em Dublin. Por este motivo iremos basearmo-nos nos resultados a 3 anos, bem como em outros estudos avaliando o impacto das MiYOSMART® em determinadas funções visuais, na qualidade visual, aceitação e tolerância.



A eficácia do controlo do equivalente esférico e do comprimento axial constitui o principal foco de interesse dos estudos de investigação. No entanto, não nos podemos esquecer do impacto na qualidade visual e em determinadas funções visuais, tais como heteroforias, amplitude de acomodação, lag acomodativo, estereopsia, acuidade visual para longe e perto e sob condições de baixo e alto contraste.


Para ilustrar a eficácia das lentes MiYOSMART® apresento a Figura A e B onde se pode ver a evolução média do equivalente esférico (SER) e comprimento axial (AL) desde o início do estudo até aos 36 meses de seguimento nos 2 grupos estudados (Figura A) e durante apenas os últimos 24 meses (Figura B). O tracejado vermelho representa a altura em que o grupo de controlo (utilizadores de lentes unifocais – control-to-Defocus Incorporated Multiple Segments, DIMS) passou a utilizar também lentes para controlo de miopia (MiYOSMART®).

As diferenças médias no SER e AL no grupo DIMS (grupo que utilizou sempre lentes MiYOSMART®) durante os 3 anos do estudo foram de (n=65) −0.52± 0.69D e 0.31± 0.26 mm, não apresentando diferenças significativas ao longo dos 3 anos, significando que o controlo foi mais ou menos constante (Figura A).


No grupo control-to-DIMS (grupo que utilizou lentes unifocais durante 24 meses e nos últimos 12 meses lentes MiYOSMART®), ocorreram diferenças significativas ao longo dos 3 anos, tendo o SER e AL diminuído durante os 3 anos do estudo quando comparado com o primeiro (diferença média=0.45±0.30D, 0.21±0.11 mm, p<0.001) e segundo ano (diferença média=0.34±0.30D, 0.12± 0.10 mm, p<0.001) (Figura A).



A Figura B demonstra que não se verificaram diferenças estatisticamente significativas relativamente ao SER e AL durante o terceiro ano entre o grupo DIMS e o grupo control-to-DIMS.


Analisando as Figuras A e B pode-se concluir também acerca da efetividade do tratamento de controlo de miopia tanto a nível de SER como de AL, pois o grupo DIMS progrediu menos durante os 3 anos do estudo quando comparado com o grupo control-to-DIMS durante os 24 meses iniciais (utilização de lentes unifocais). Aquando da alteração de lentes do grupo controlo nos últimos 12 meses, a progressão foi aproximadamente igual.


O impacto das lentes oftálmicas para controlo de miopia no desempenho visual está agora a ser estudado (apesar de serem estudos piloto e de reduzida amostragem) nomeadamente avaliando a acuidade visual (AV) e a sensibilidade ao contraste (SC) sob diferentes níveis de iluminação.


Segundo Kaymak, et al. (2022), utilizando a zona central da lente para controlo de miopia não existe diminuição da AV nem da SC, estando estes parâmetros em linha com os apresentados quando utilizadas lentes unifocais para correção de miopia. Contudo, no olhar para o lado nasal e temporal a AV decresce 0.23±0.19 logMAR, apresentando uma AV absoluta respetivamente de 0.23±0.14 e 0.16±0.12 logMAR (assimetria nasal/temporal). 

A SC apresenta uma diminuição apenas no lado nasal e temporal −0.12±0.20 e −0.18±0.20 logCS respetivamente em frequências espaciais elevadas (6 a 18 cpd), não existindo diferenças estatisticamente significativas na posição primária do olhar como se pode comprovar pela Figura D.

Segundo Lam, et al. (2020) a amplitude de acomodação monocular e binocular, lag acomodativo e estereopsia apresentam alterações durante os 2 anos do estudo nos dois grupos incluídos, ao contrário da heteroforia horizontal para perto e para longe.

O decréscimo da AA (colocar também por extenso porque este acrónimo ainda não foi referido) binocular entre o grupo DIMS e o grupo de controlo (lentes unifocais) foi de –1,90 D e –2,06 D respetivamente, enquanto a AA monocular foi de –1,68 D e –1,56 D no final dos 2 anos do estudo, começando por se manifestar esta diminuição logo após os primeiros 6 meses.


Foi verificado uma ligeira redução do lag acomodativo aos 6 meses de utilização das lentes, tendo diminuído ligeiramente durante o restante período em ambos os grupos.


A estereopsia melhorou nos 2 grupos ao longo dos 2 anos, tendo-se verificado melhores valores após 12 meses, mantendo-se mais ou menos constante durante os últimos 12 meses. Os valores encontrados foram de –5,9 seg arc  e –7,4 seg arc relativamente ao grupo DIMS e grupo controlo em cada um deles respetivamente.


Lu, et al. (2020) abordou a adaptação e aceitação das lentes para controlo de miopia (MiYOSMART®) e lentes unifocais de correção de miopia em crianças e adultos. Todas as crianças estavam dispostas a usar a lente unifocais para correção de miopia na sua vida diária, enquanto apenas 85% estavam dispostas a usar a lente para controlo de miopia (MiYOSMART®). Se tivessem que selecionar a lente que não gostavam, 40% dos sujeitos não estavam dispostos a usar lentes para controlo de miopia, mas depois de serem informados de que estas poderiam retardar a progressão da miopia em 59%, então 90% dos sujeitos aceitariam usar as lentes de controlo de miopia.


Em comparação, embora todos os adultos estivessem dispostos a usar lentes unifocais para correção de miopia na sua vida diária, apenas 60% estavam dispostos a usar lentes para controlo de miopia (MiYOSMART®). Se tivessem de selecionar uma das lentes que não gostavam, 70% dos sujeitos não estavam dispostos a usar lentes para controlo de miopia. Valores significativamente maiores do que a proporção de relutância das crianças. Contudo quando a eficácia da lente para controlo de miopia foi discutida, a proporção de aceitação aumentou de 30% para 70%, uma taxa de aceitação semelhante às crianças.


Relativamente à adaptação, no grupo das crianças utilizadoras de lentes para controlo de miopia apenas existiram queixas de desfocagem paracentral e periférica, enquanto nenhuma queixa foi registada no grupo de crianças utilizadoras de lentes unifocais para correção de miopia. Os adultos por sua vez, parecem mais sensíveis às lentes para controlo de miopia, apresentando cefaleias, tonturas, desfocagem paracentral e periférica e necessidade de ajuste da armação com mais frequência e com mais severidade dos sintomas do que os utilizadores de lentes unifocais para correção da miopia.

 

Em suma, após revisão da literatura científica podemos dizer que as lentes MiYOSMART® são uma estratégia válida, eficaz e segura para o controlo da miopia, não tendo encontrado efeitos adversos significativos nas funções visuais de forma a comprometer o normal desenvolvimento do olho humano. Contudo convém realçar as limitações dos estudos muitas vezes com pequenas amostragens e de curta prospeção.

 

Bibliografia:

1.     Carlà MM, Boselli F, Giannuzzi F, et al. Overview on Defocus Incorporated Multiple Segments Lenses: A Novel Perspective in Myopia Progression Management. Vision (Basel). 2022;6(2):20. Published 2022 Apr 2. doi:10.3390/vision6020020

2.     Kaymak H, Neller K, Schütz S, Graff B, Sickenberger W, Langenbucher A, Seitz B, Schwahn H. Vision tests on spectacle lenses and contact lenses for optical myopia correction: a pilot study. BMJ Open Ophthalmol. 2022 Apr 5;7(1):e000971. doi: 10.1136/bmjophth-2022-000971. PMID: 35464151; PMCID: PMC8984052

3.     Lam CSY, Tang WC, Qi H, et al. Effect of Defocus Incorporated Multiple Segments Spectacle Lens Wear on Visual Function in Myopic Chinese Children. Transl Vis Sci Technol. 2020;9(9):11. Published 2020 Aug 5. doi:10.1167/tvst.9.9.11

4.     Lam CS, Tang WC, Lee PH, Zhang HY, Qi H, Hasegawa K, To CH. Myopia control effect of defocus incorporated multiple segments (DIMS) spectacle lens in Chinese children: results of a 3-year follow-up study. Br J Ophthalmol. 2021 Mar 17:bjophthalmol-2020-317664. doi: 10.1136/bjophthalmol-2020-317664. Epub ahead of print. PMID: 33731364.

5.     Lu Y, Lin Z, Wen L, Gao W, Pan L, Li X, Yang Z, Lan W. The Adaptation and Acceptance of Defocus Incorporated Multiple Segment Lens for Chinese Children. Am J Ophthalmol. 2020 Mar;211:207-216. doi: 10.1016/j.ajo.2019.12.002. Epub 2019 Dec 13. PMID: 31837317

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